Desenvolvimento Motor da Criança de 0 a 5 anos

DESENVOLVIMENTO MOTOR

O processo do desenvolvimento motor revela‑se basicamente por alterações no comportamento motor. Todos nós ‑ bebês, crianças, adolescentes e adultos – estamos envolvidos no processo permanente de aprender a mover‑se com controle e competência, em reação aos desafios que enfrentamos diariamente em um mundo em constante mutação. Podemos observar diferenças no comportamento motor, provocadas por fatores próprios do indivíduo (biologia), do ambiente (experiência) e da tarefa em si (físicos/mecânicos).

 

Movimento estabilizador é qualquer movimento no qual algum grau de equilíbrio é necessário (isto é, virtualmente toda atividade motora rudimentar). Em sentido mais estreito, um movimento estabilizador é aquele não‑locomotor e não‑manipulativo. A categoria convenientemente inclui movimentos como girar, virar‑se, empurrar e puxar, que não podem ser classificados como locomotores ou manipulativos.

 

 

Movimento locomotor refere‑se a movimentos que envolvem mudanças na localização do corpo relativamente a um ponto fixo na superfície. Caminhar, correr, pular, ficar apoiado em um pé só ou saltar um obstáculo é desempenhar uma tarefa locomotora.

Movimento manipulativo refere‑se tanto à manipulação motora rudimentar quanto à manipulação motora refinada. A manipulação motora rudimentar envolve a aplicação de força ou a recepção de força de objetos. As tarefas de arremessar, apanhar, chutar e derrubar um objeto, bem como prender e rebater são movimentos manipulativos motores rudimentares. A manipulação motora refinada envolve o uso intrincado de músculos da mão e do pulso. Costurar, cortar com tesouras e digitar são movimentos manipulativos motores refinados.

Grande número de movimentos envolve a combinação de movimentos estabilizadores, locomotores e/ou manipulativos. Por exemplo, pular corda envolve locomoção (pular), manipulação (girar a corda) e estabilidade (manter o equilíbrio). Da mesma forma, jogar futebol envolve habilidades locomotoras (correr e pular), manipulativas (driblar, passar, chutar e cabecear) e estabilizadoras (esquivar‑se, atingir, girar e virar‑se).

Para Gallahue (1982), a motricidade atravessa uma série de fases que se caracterizam por uma série de condutas motoras, dentro das quais podem diferenciar-se diversos estágios.

Em resumo, é uma estrutura piramidal que tem na base os movimentos reflexos neonatais e a motricidade rudimentar do recém-nascido que evolui para chegar à especialização motora fruto de uma precisa adaptação ao meio.

 

 

Fase motora reflexiva

Os primeiros movimentos que o feto faz são reflexivos. Os reflexos são movimentos involuntários, controlados subcorticalmente, que formam a base para as fases do desenvolvimento motor. A partir da atividade de reflexos, o bebe obtém informações sobre o ambiente imediato. As reações do bebe ao toque, à luz, a sons e a alterações na pressão provocam atividade motora involuntária. Esses movimentos involuntários e a crescente sofisticação cortical nos primeiros meses de vida pós‑natal desempenham importante papel para auxiliar a criança a aprender mais sobre seu corpo e o mundo exterior.

 Os reflexos primitivos podem ser classificados como agrupadores de informações, caçadores de alimentação e de reações protetoras. São agrupadores de informações à medida que auxiliam a estimular a atividade cortical e o desenvolvimento. São caçadores de alimentação e protetores porque há consideráveis evidências de que sejam filogenéticos por natureza. Os reflexos primitivos, como os reflexos de sugar e de pesquisar pelo olfato, são considerados mecanismos de sobrevivência primitivos. Sem eles, o recém‑nascido seria incapaz de obter alimento.

 Os reflexos posturais compõem a segunda forma de movimento involuntário e são notavelmente similares, na aparência, a comportamentos voluntários posteriores, mas são inteiramente involuntários. Esses reflexos parecem servir como equipamentos de teste neuromotores para mecanismos estabilizadores, locomotores e manipulativos que serão usados mais tarde com controle consciente.O reflexo primário de pisar e o reflexo de arrastar‑se, por exemplo, relembram intimamente os comportamentos de caminhar voluntário posterior e de engatinhar. O reflexo palmar de agarrar é intimamente relacionado aos comportamentos voluntários posteriores de agarrar e soltar. O reflexo vertical labiríntico e os reflexos de sustentação estão relacionados às habilidades de equilíbrio posteriores. A fase reflexiva do desenvolvimento motor pode ser dividida em dois estágios sobrepostos.

Os reflexos são as primeiras formas de movimento humano.

 Estágio de codificação de informações

O estágio de codificação de informações (reunião) da fase de movimentos reflexivos é caracterizado por atividade motora involuntária observável no período fetal até aproximadamente o quarto mês do período pós‑natal. Nesse estágio, os centros cerebrais inferiores são mais altamente desenvolvidos do que o córtex motor e estão essencialmente no comando do movimento fetal e neonatal. Esses centros cerebrais são capazes de causar reações involuntárias a inúmeros estímulos de intensidade e duração variadas. Os reflexos, agora, servem de meios primários pelos quais o bebe é capaz de reunir informações, buscar alimento e encontrar proteção ao longo do movimento.

 

Estágio de decodificação de informações

O estágio de decodificação de informações (processamento) da fase reflexiva começa aproximadamente no quarto mês de vida. Nesse período, há gradual inibição de muitos reflexos à medida que os centros cerebrais superiores continuam a desenvolver‑se. Os centros cerebrais inferiores gradualmente cedem o controle sobre os movimentos esqueletais e são substituídos por atividade motora voluntária mediada pela área motora do córtex cerebral. O estágio de decodificação substitui a atividade sensório‑motora por habilidade motor‑perceptiva. Isto é, o desenvolvimento do controle voluntário dos movimentos esqueletais do bebe envolve o processamento de estímulos sensoriais com informações armazenadas, não simplesmente reação aos estímulos.

 

Fase Motora Rudimentar

As primeiras formas de movimentos voluntários são os movimentos rudimentares, observados no bebe, desde o nascimento até, aproximadamente, a idade de 2 anos. Os movimentos rudimentares ,são determinados de forma maturacional e caracterizam‑se por uma seqüência de aparecimento altamente previsível. Esta seqüência é resistente a alterações em condições normais. O nível com que essas habilidades aparecem, porém, varia de criança a criança e depende de fatores biológicos, ambientais e da tarefa. As “habilidades motoras rudimentares” do bebe representam as formas básicas de movimento voluntário que são necessárias para a sobrevivência. Elas envolvem movimentos estabilizadores, como obter o controle da cabeça, pescoço e músculos do tronco; as tarefas manipulativas de alcançar, agarrar e soltar; e os movimentos locomotores de arrastar‑se, engatinhar e caminhar. A fase de movimentos rudimentares de desenvolvimento pode ser dividida em dois estágios que representam progressivamente ordens superiores de controle motor.

A seqüência de aquisição de habilidades motoras, a fase de movimentos rudimentares, é fixa, porém o índice é variável.

Estágio de inibição de reflexos

O estágio de inibição de reflexos da fase de movimentos rudimentares inicia-se no nascimento. No nascimento, os reflexos dominam o repertório de movimentos do bebe. Dali em diante, entretanto, os movimentos do bebe são crescentemente influenciados pelo córtex em desenvolvimento. O desenvolvimento do córtex e a diminuição de certas restrições ambientais fazem com que vários reflexos sejam inibidos e gradualmente desapareçam. Os reflexos primitivos e posturais são substituídos por comportamentos motores voluntários. Quanto à inibição de reflexos, o movimento voluntário é fragilmente diferenciado e integrado porque o aparato neuromotor do bebe está ainda em estágio rudimentar de desenvolvimento. Os movimentos, embora com objetivos, parecem descontrolados e grosseiros. Se o bebe deseja entrar em contato com um objeto, haverá atividade global da mão inteira, pulso, ombro e até do tronco. O processo de movimentar a mão para o contato com objeto, apesar de voluntário, apresenta falta de controle.

Estágio de pré‑controle

Por volta de 1 ano de idade, as crianças começam a ter precisão e controle maiores sobre seus movimentos. O processo de diferenciação entre os sistemas sensorial e motor e a integração de informações motoras e perceptivas, em um todo mais significativo e coerente, acontecem. O rápido desenvolvimento tanto de processos cognitivos superiores quanto de processos motores encoraja rápidos ganhos nas habilidades motoras rudimentares nesse estágio. No estágio de pré‑controle, as crianças aprendem a obter e a manter seu equilíbrio, a manipular objetos e a locomover‑se pelo ambiente com notável grau de proficiência e controle, considerando‑se o curto período que tiveram para desenvolver essas habilidades. O processo maturacional pode explicar parcialmente a rapidez e a extensão do desenvolvimento do controle dos movimentos nessa fase, mas o crescimento da proficiência motora não é menos assombroso.

 Fase motora fundamental

As “habilidades motoras fundamentais” da primeira infância são conseqüência da fase de movimentos rudimentares do período neonatal. Esta fase do desenvolvimento motor representa um período no qual as crianças pequenas estão ativamente envolvidas na exploração e na experimentação das capacidades motoras de seus corpos. É um período para descobrir como desempenhar uma variedade de movimentos estabilizadores, locomotores e manipulativos, primeiro isoladamente e, então, de modo combinado. As crianças que estão desenvolvendo padrões fundamentais de movimento estão aprendendo a reagir com controle motor e competência motora a vários estímulos. Estão obtendo crescente controle para desempenhar movimentos discretos, em série e contínuos, como fica evidenciado por sua habilidade em aceitar alterações nas exigências das tarefas. Os padrões de movimento fundamentais são padrões observáveis básicos de comportamento. Atividades locomotoras (correr e pular), manipulativas (arremessar e apanhar) e estabilizadoras (andar com firmeza e o equilíbrio em um pé só) são exemplos de movimentos fundamentais que devem ser desenvolvidos nos primeiros anos da infância.

 

Uma das principais concepções erradas sobre o conceito desenvolvimentista da fase de movimentos fundamentais é a noção de que essas habilidades são determinadas maturacionalmente e são pouco influenciadas pela tarefa e por fatores ambientais. Alguns especialistas em desenvolvimento infantil (não na área de desenvolvimento motor) têm escrito repetidamente sobre o desdobramento “natural” do movimento e das habilidades motoras infantis e a idéia de que as crianças desenvolvem essas habilidades simplesmente por ficarem mais velhas (maturação). Embora a maturação realmente desempenhe papel básico no desenvolvimento de padrões de movimento fundamentais, não deve ser considerada como a única influência. As condições do ambiente ‑ a saber, oportunidades para a prática, encorajamento, instrução e a ecologia (cenário) do ambiente em si ‑ desempenham papel importante no grau máximo de desenvolvimento que os padrões de movimento fundamentais atingem.

 Os recursos e os limitadores de nível contidos na tarefa, no indivíduo e no ambiente têm efeito profundo na aquisição de habilidades motoras fundamentais maduras.

 

Estágio inicial

O estágio inicial de uma fase de movimentos fundamentais representa as primeiras tentativas da criança orientadas para o objetivo de desempenhar uma habilidade fundamental. O movimento, em si, é caracterizado por elementos que faltam ou que são ‑ de forma imprópria ‑ marcadamente seqüenciados e restritos, pelo uso exagerado do corpo e por fluxo rítmico e coordenação deficientes. Tipicamente, os movimentos locomotores, manipulativos e estabilizadores da criança de 2 anos de idade estão no nível inicial. Algumas crianças podem estar além desse nível no desempenho de alguns padrões de movimento, porém, a maioria está no estágio inicial.

 

Estágio elementar

O estágio elementar envolve maior controle e melhor coordenação rítmica dos movimentos fundamentais. Aprimora‑se a sincronização dos elementos temporais e espaciais do movimento, porém, os padrões de movimento nesse estágio são ainda geralmente restritos ou exagerados, embora mais bem coordenados. Crianças de inteligência e funcionamento físico normais tendem a avançar para o estágio elementar, primariamente, ao longo do processo de maturação. A observação de crianças de 3 ou 4 anos de idade revela inúmeros movimentos fundamentais no estágio elementar. Muitos indivíduos, tanto adultos quanto crianças, não vão além do estágio elementar em muitos padrões de movimento.

 

Estágio maduro

O estágio maduro na fase de movimentos fundamentais é caracterizado por desempenhos mecanicamente eficientes, coordenados e controlados. A maioria dos dados disponíveis sobre a aquisição de habilidades motoras fundamentais sugere que as crianças podem e devem atingir o estágio maduro aos 5 ou 6 anos de idade. As habilidades manipulativas que requerem acompanhamento e interceptação de objetos em movimento (apanhar, derrubar, rebater) desenvolvem‑se um pouco mais tarde em função das exigências visuais e motoras sofisticadas dessas tarefas. Até mesmo a observação casual nos movimentos de crianças e de adultos revela que muitos deles não desenvolveram suas habilidades motoras fundamentais até o nível maduro. Embora algumas crianças possam atingir esse estágio basicamente pela maturação e com um mínimo de influências ambientais, a grande maioria precisa de oportunidades para a prática, o encorajamento e a instrução em um ambiente que promova o aprendizado. Sem essas oportunidades, toma‑se virtualmente impossível um indivíduo atingir o estágio maduro de certa habilidade nessa fase, o que vai inibir a aplicação e o desenvolvimento dessa habilidade em períodos posteriores.

Escreva pra mim nos comentários abaixo, como essas informações vão te ajudar no dia a dia com as crianças, seja para conhecê-las melhor, seja para planejar atividades.

Beijo
Vivian Mazzeo

Fonte: Compreendendo o Desenvolvimento Motor. David L. Gallahue

6 comentários em “Desenvolvimento Motor da Criança de 0 a 5 anos”

    • Olá Barbara…
      Venha para a Maratona da Educação!
      A Maratona da Educação é um evento on-line e gratuito que acontece até 16/05 todos dias as 20h.

      Os objetivos da Maratona da Educação são: Refletir sobre a nossa prática com crianças de 0 a 3 anos e aprender estratégias práticas de atividades, planejamento, avaliação e muito mais.

      Se você quer aprender ou melhorar a sua prática, inscreva-se:
      https://maratona.bebeativo.com.br

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      Responder
  1. Meu filho tem quatro anos a professora me disse que o movimento estabilizador dele é razoável .
    Não soube explicar muito bem disse que ele tem medo de correr,pular, rastejar subir escadas e que se não fosse corrigido poderia até precisar de fisioterapia. Mais em casa tenho duas escadas ele sobe desce, corre ,pula joga bola o dia inteiro. Não para é uma criança elétrica .
    Gostaria de uma explicação melhor por favor.

    Obrigada

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    • Oi Aline…
      Precisa conversar com a Professora para alinhar essas informações.
      Por que o comportamento dele é tão diferente em casa e na escola?
      Outra questão… Qual a relação do movimento estabilizador com medo de correr e pular?
      Essas informações estão superficiais. Beijo

      Responder
  2. Esta informação ajudará o grupo de professoras da escola onde trabalho a compreender melhor o desenvolvimento motor das crianças.

    Responder

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