As maiores dificuldades dos professores das crianças de zero a três anos e as soluções!

O primeiro passo para resolver um problema é saber que ele existe é entendê-lo. Muitas são as dificuldades que nós professores de bebês e crianças bem pequenas enfrentamos no dia a dia. Não só nesse momento de isolamento social em que estamos fazendo as videoaulas e/ou ensino remoto, tendo uma interação a distância com as crianças, mas também nos momentos em que estamos na escola.

Quero lembrar que tudo isso vai passar, se Deus quiser será logo, e vamos retomar o nosso trabalho na escola.

O que vou tratar aqui, muitas coisas vamos utilizar nesse momento, e outras quando retomarmos ás aulas presenciais.

Simplificando os mistérios da BNCC

Muitas dúvidas, ainda existem em torno da BNCC – Base Nacional Comum Curricular.

Precisamos não só adequar o nosso trabalho a BNCC, mas também entender a BNCC e adequá-la ao nosso trabalho.

Antes da BNCC nós já trabalhávamos com os bebês, já trabalhávamos com as crianças bem pequenas, já tínhamos uma rotina, um entendimento sobre as necessidades das crianças, uma forma de desenvolver atividades.

Nada disso mudou. Algumas coisas nós precisamos refletir, readaptar e reorganizar.

E como fazemos isso? Vamos começar adequando o nosso trabalho a BNCC

As principais questões da BNCC são sobre os cinco campos de experiência, os seis direitos de aprendizagem e, o que fica muito claro, que é a questão da criança protagonista, dela ter a iniciativa, dela ser a protagonista do seu próprio desenvolvimento. Que temos que levar em consideração os quereres das crianças, o que elas pensam, veem, o que elas estão buscando, quais são as curiosidades delas.

Muitos de nós já trabalhávamos nessa linha, já víamos a criança como protagonista do processo, já respeitávamos os direitos de aprendizagem da criança, apesar de não estarem definidos dessa forma.

Os campos de experiência também, mudou a nomenclatura, mudou a forma de escrever algumas coisas, mas a essência do trabalho, para quem já trabalhava nessa linha, não mudou.

E como adequar, trazer a BNCC para dentro das minhas atividades, como eu faço para trabalhar determinado campo de experiência, ou trabalhar determinado objetivo?

Vamos supor que eu olhe para as atividades que tenho, olhe para a BNCC, e fale “olha nessa atividade eu vou trabalhar com cores, vou trabalhar com formas, legal então onde isso entra na BNCC, onde fala sobre cores e formas,” aí já vou encontrar, por exemplo, um campo de experiência lá, traços, sons, cores e formas, e opa legal, tem um campo de experiência aqui sobre isso.

Agora especificamente sobre essa atividade eu vou desenvolver ela assim, assim, aonde isso vai entrar, em qual desses objetivos? E aí eu vou lendo a BNCC, aqueles objetivos, e vou olhando para minha atividade e vendo onde aquilo encaixa.

É muito mais fácil do que a maioria dos professores pensam que é.

É só uma questão de você entender o que você vai fazer, e procurar onde aquilo que você vai fazer está dentro da BNCC. É basicamente isso.

Por que eu não gosto de colocar os códigos da BNNC quando sugiro atividades?

Uma coisa que é importante deixar claro é que, muitas vezes, eu falo para vocês quais são os campos de experiência que determinada atividade trabalha, coloco até os código da BNCC, e eu não gosto muito de fazer isso, e eu vou explicar o porquê.

Vamos imaginar a seguinte situação eu, Vivian, olho para uma atividade, vamos supor, de empilhar coisas, pode ser empilhar caixas, empilhar blocos, o que for, e penso “hum essa atividade de empilhar eu vou trabalhar coordenação motora, o meu foco vai ser em coordenação motora”, beleza.

Outra professora pode olhar para a atividade de empilhar e falar. – Eu vou trabalhar o conceito de maior e menor, pois se a criança colocar os maiores por baixo, e os menores por cima, a chance de a torre cair é menor, aumenta a sustentação na base, então eu vou trabalhar esse conceito”.

É outra abordagem completamente diferente. E a atividade pode ser aparentemente a mesma.

Por isso que eu falo que a mesma atividade serve para vários objetivos.

Quando eu falo para você que uma determinada atividade atende um objetivo eu estou limitando seu trabalho, porque eu não estou te dando a oportunidade de ver essa atividade de outras formas.

É por esse motivo que eu não gosto muito de colocar o código da BNCC na atividade, aqui no Blog ou nas redes sociais, para não limitar, para não engessar o trabalho do professor.

Alem disso, para alcançar o objetivo pretendido em alguma atividade vai depender, muitas vezes, da atuação do professor. De como ele vai conduzir, se ele vai dar respostas prontas, vai instigar a criança a descobrir sozinha, a forma como ele vai falar, a forma como ele vai apresentar o material.

Tudo isso pode modificar os objetivos que estávamos pensando quando iniciamos a atividade.

E, quando vamos ver, não atendemos aquele código da BNCC, não atendemos aquele objetivo, atendemos outro, e ficou errado. A pessoa vai olhar e falar “puxa vida, você falou que atendia isso aqui, e eu fiz, e minha coordenadora falou que estava errado, que não atendeu”.

E isso vai acontecer se nós não entendermos que o objetivo não está diretamente ligado somente com a atividade, ele está diretamente ligado com a forma que essa atividade vai se desenvolver também, e isso é muito importante.

Porque depende do olhar do professor, depende de para onde essa criança está indo, como essa criança está mexendo nos materiais, quais são as curiosidades dela, quais são os desafios que ela está enfrentando, e os desafios de uma criança são diferentes dos desafios de outra criança porque cada criança é individual, é única.

Vivian eu posso colocar vários códigos na mesma atividade? Desde que você consiga dar a oportunidade de alcançar esses objetivos, para a criança, na prática, você pode. O que não podemos é colocar uma coisa que na prática não vai funcionar.

E ainda… Muitas vezes acontece de nós colocarmos um objetivo, e chega na hora “dá errado”, a criança pensa em outra coisa, faz de outra forma. É preciso adequar o planejamento para o que de fato aconteceu em sala.

Não assassine a criatividade das crianças!

Vamos imaginar que você coloque bambolês no chão da sala, e pense em trabalhar noção espacial, vai falar para as crianças que o bambolê é um lago, e aí eles não podem cair na água, precisam desviar dos bambolês de alguma maneira, não podem entrar no bambolê.

Você está pensando em trabalhar noção espacial, organização espaço temporal, beleza, aí você colocou os bambolês no chão, deu o horário, as crianças entraram e o que aconteceu? Eles foram direto dentro dos bambolês, os que já andam começam a pular de dentro para fora.

Você vai falar para turma parar tudo, que não foi isso que você programou, que vai explicar a brincadeira? Não, claro que não. Você vai continuar, vai dar andamento, e aí já mudou para trabalhar o conceito “dentro e fora”.

Essa atitude está diretamente ligada ao protagonismo da criança.

Não podemos querer que a criança faça somente aquilo que nós queremos, ela tem que aprender em cima da curiosidade dela, da experiência dela, de acordo como ela vê os materiais, os espaços e as pessoas.

Por isso nosso planejamento não pode ser engessado, tem que ser revisitado. Temos que voltar lá depois da aula, quando formos anotar nossas observações, e escrever que as coisas foram por outro caminho, que os objetivos foram tais, e está tudo certo.

É quase impossível pegar um planejamento e não ter nenhuma rasura, a professora não fazer nenhuma retificação, planejar tudo e as crianças chegarem na hora e pensarem exatamente como você pensou. E que bom que isso não acontece porque isso dá oportunidade para as crianças criarem.

Olha que assassinato com a criatividade infantil se falarmos para a criança que ela não pode brincar de um determinado jeito. Deixe criar. E nós aprendemos tanto.

Quantas atividades eu tenho hoje que não fui eu que desenvolvi, que foram as crianças.

Eu coloquei lá um material, apresentei uma proposta, e a criança foi e fez totalmente diferente do que eu imaginava. Fique aberta as propostas e possibilidades.

E pensando nesse momento que estamos vivenciando, de estar sempre enviando os materiais e sugestões para casa, é preciso falar isso para a família.

A família pode pensar que a criança não pode fazer do jeito dela, que deve ser igual ao que a professora pediu.

Lembre-se de falar para família que a proposta é essa, a sugestão é essa mostrem o material para criança, mas que eles devem deixá-la fazer do seu jeito, permitir que a criança experimente, ela ter as idéias dela, porque isso é aprendizado.

E como avaliar tudo isso?

Muitas professoras falam que tem dificuldades de avaliar no berçário porque a criança não fala o que está sentindo, não conseguem entender o que ela está aprendendo, que a criança não se comunica e por esse motivo acham difícil.

Antes de falar como fazer a avaliação em si, preciso dizer que trabalhar no berçário não deveria ser, eu sei que em muitas escolas é, mas não deveria ser uma obrigação mediante a escolha da coordenação, da direção, ou da secretaria da educação.

Apesar da pedagogia dar toda uma gama de trabalho para o professor, apesar de poder por lei, por certificado, por chancela, isso não é bacana. Não é bacana, para as pessoas, nem para as crianças, muito menos para a educação do nosso paí. Como uma pessoa vai trabalhar naquilo que ela não gosta, ou naquilo que ela não tem competência e habilidade? Quais são as chances desse trabalho ser bem feito?

Então a escola chegar e definir é muito desumano. Além de impactar na qualidade de trabalho, que poderia ser muito maior do que ele vai apresentar.

Ninguém consegue fazer um trabalho incrível trabalhando naquilo que não tem paixão, naquilo que não tem habilidade, que não tem competência.

Então esse é o primeiro ponto da avaliação, se você acha que as crianças não se comunicam no berçário, ou é só uma falta de você entender, aprender com essa comunicação, ou você não tem muita ligação com bebês.

As crianças de zero a três anos se comunicam muito mais que as crianças do quinto ano, por exemplo.

Ai você vai falar “Ahhhh Vivian para de brincadeira, as crianças do quinto ano vêm na nossa mesa, perguntam, avisam quem bateu, avisam quem chutou, quem não fez lição”, ta bom gente, só que eles falam coisas, muitas vezes, superficiais, mas as vezes eles deixam de fazer uma pergunta porque estão com vergonha, deixam de fazer uma pergunta porque estão com medo, uma série de situações.

O berçário não. As crianças são tão ingênuas, genuínas, e estão tão começando que elas demonstram tudo para nós, elas só não falam ainda, não verbalizam essa comunicação, mas elas demonstram tudo.

Se você trabalha no berçário e não está enxergando isso tem duas opções:

  • Ou você não está enxergando isso porque não teve oportunidade de aprender, ninguém te falou ainda que é só uma questão de você refletir e observar todos os indícios da criança, todas as comunicações que ela te apresenta de diversas formas.
  • Ou é porque você não tem ligação com essa faixa etária. E está tudo bem.

A professora que trabalho no quinto ano ela é ótima, ela está certa, não é melhor ou pior que eu que amo crianças de zero a três. Cada um tem que trabalhar naquilo que tem paixão, que tem competência e habilidade.

A educação, muitas vezes, não dá oportunidade para os professores se especializarem. E nós professores precisamos falar isso na escola, na secretaria de educação do nosso município, precisamos postar isso na nossa rede social.

Professor não é um ioiô que hoje está aqui, e amanhã está lá.

Pegue um médico ortopedista e fale para ele ir trabalhar no setor de queimados, pois o dermatologista faltou, ele não vai, ele não é um especialista nessa área.

E o professor fica sendo jogado igual a pingue-pongue. Isso também faz parte da desvalorização do professor.

Avaliação no berçário não é um monstro de sete cabeças!

Dito isso como eu vou fazer para avaliar as crianças no berçário já que elas não me dão nenhum retorno direto, elas não me falam? Eu vou observar todas as ações, e reações, de todas as crianças individualmente.

Vivian eu tenho 30 alunos, eu tenho 50, isso é impossível? Faz o melhor que você pode com aquilo que você tem. Registra todos os seus problemas e dificuldades, e encaminha para a direção da escola, encaminha para a gestão do seu município caso você trabalhe na rede municipal, secretaria de educação, prefeito, comunica.

Um “trabalho mal feito” porque eu não tenho condições, eu sei que não ficou bom, mas eu fiz o máximo que eu poderia, dentro das minhas condições, é maravilhoso. Desde que você leve isso adiante, que você fale.

Ahhhh Vivian, mas não vai adiantar… Não pense no problema do outro. Faça o que você tem controle, faça sua parte, faz o seu relatório, leve na direção, na coordenação, na secretaria de educação, leva para todo mundo, para todo lugar que você puder, mostra que fez, está aqui, mas está errado, está ruim porque tem muita criança, não tem isso ou aquilo, relate e informe.

Na prática você vai observar as crianças, como elas reagem, como elas agem, o desenvolvimento, o que ela já está aprendendo, suas evoluções.

A fase em que mais eles se desenvolvem é de zero a três anos.

Para ajudar nessa observação temos que ter parâmetros iniciais.

O que eu vou observar?

Você vai observar o desenvolvimento da criança na parte motora, maios ou menos com quanto tempo a criança vai sentar, mais ou menos com quanto tempo ela vai engatinhar, quantos blocos vai empilhar, quantas palavras ela vai falar.

 Em cima desses parâmetros você vai observar cada criança individualmente.

E relatar como é o desenvolvimento da criança, o que ela faz o que ela gosta, como ela se comporta, seja no berçário, seja na creche, seja na escola privada, eu vou fazer esse relatório.

Sempre baseado nos meus objetivos, nas minhas anotações das aulas, e na observação que eu fiz das crianças.

Para um entendimento mais profundo sobre a avaliação, acesse: https://avaliacao.bebeativo.com.br.

Vamos refletir sobre as atividades?

Faz uma reflexão comigo…

Vejo muito professor buscando novas atividades o tempo todo.

Primeiro lembre-se que de uma atividade, muitas vezes, eu tiro outras duas ou três idéias.

E segundo que a mesma atividade eu preciso repetir várias vezes no mesmo ano, falando das crianças de zero a três, isso por qual motivo? Porque eles vão se desenvolver muito nessa fase, e a atividade que eu fiz no começo do ano, se eu refizer essa atividade no final do ano ela vai ter outro resultado, as crianças vão ver de outra forma, eles já vão ter aprendido e se desenvolvido muito mais, vai ser muito diferente.

E toda vez que uma criança faz uma atividade ela aprende coisa nova.

Porque você acha que a criança gosta das mesmas brincadeiras, das mesmas histórias?

Cada vez que a criança ouve uma música, cada vez que a criança tem uma vivência, uma experiência, faz uma atividade, ela aprende coisa nova.

Eles são muito pequenos, um mês, uma semana, faz muita diferença no desenvolvimento deles.

Por isso nós precisamos repetir as atividades mais de uma vez, normalmente três ou quatros vezes, nós devemos repetir a atividade em um ano no berçário.

Eles precisam de muita repetição para conseguir aprender cada vez uma coisa nova.

Então, primeiro devemos lembrar-nos de repetir as atividades muitas vezes, depois que de uma atividade podemos tirar outras possibilidades.

Por exemplo, a atividade cama de gato, tirar o brinquedo é o obvio, mas e colocar de volta? E mudar os objetos? Tudo isso são novas possibilidades que podemos criar dependendo do momento.

Lembre-se que para as crianças é tudo novidade!

Vamos imaginar que nós temos 200 dias letivos, às vezes passa um pouco no berçário já que algumas escolas não tiram férias, mas em média vamos colocar 200 dias letivos.

Vamos supor que você vai fazer duas atividades por dia, levando em conta que tem os momentos de brincadeira, de música, de contação de história, tem todo o momento do cuidar que você também vai usar para ensinar, e desenvolver vários objetivos da BNCC durante o cuidar.

Então vamos supor que você vai fazer duas atividades bem direcionadas por dia, são 200 dias letivos, isso dá um total de 400 atividades que você vai precisar no ano.

Se você for repetir a mesma atividade três vezes no ano, que é o mínimo, você vai precisar de 133 atividades em um ano.

E no ano seguinte as mesmas 133.

Vivian mas eu já fiz no ano passado??

 Ok, mas você fez para os seus alunos do ano passado. E os alunos desse ano?

Mas tem professor que fala assim “essa atividade está batida” ou “essa atividade eu já cansei de fazer”. Para você está batida, você está acostumado, mas a criança está começando agora, para ela é tudo novo.

Todo ano você tem uma turma nova.

Não estou falando para você ficar estagnado, para não pensar em novas possibilidades, não é isso. Eu só estou dizendo que a atividade que você acha legal, pode, e deve refazer.

A não ser que a atividade seja ruim, ou não funcione, e não seja adequada para aquela faixa etária…

Será que você precisa mesmo ter novas atividades, ou atividades diferentes, ou será que você precisa melhorar a aplicação prática do que você já tem?

Mas eu não tenho mesmo, não sei, estou começando agora? É só entrar em https://bebeativo.com.br/materiais baixar ou adquirir nossos e-Books e pronto, problema resolvido.

Busque melhorar a aplicação prática daquilo que já tem. Você não vai procurar outra atividade, vai pegar aquela atividade que já fez e depois que passar de uma semana, um mês, vai fazer de uma forma melhor, pensar outras possibilidades antes de fazer.

Não é pegar mil atividades e fazer uma vez cada uma. É pegar 100 atividades, ou 50 e fazer mil vezes cada uma.

Para você realmente aprender a aplicar uma atividade como deve ser, de acordo com as necessidades da BNCC e de acordo com as necessidades de cada criança.

Isso não é fácil, não basta eu treinar na frente do espelho, eu tenho que ter todo o conhecimento e competência para chegar na hora e conseguir agir de acordo com o que a criança vai fazer e falar.

Tem que treinar porque cada bebê é um bebê, cada um vai reagir de uma forma, e você terá que estar preparada para lidar com cada um dentro da sua individualidade.

Dicas úteis e práticas, qual delas você mais gostou?

Quais outros problemas você encontra no dia a dia e não foram abordados aqui? Me conta nos comentários…

Beijo

Vivian Mazzeo

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