Falo NÃO o dia todo e as crianças não obedecem. O que fazer?

Hoje a gente vai falar um pouquinho sobre o “não”. Mas não é aquele não da criança, é o não do professor. Porque tem o não da criança, aquela fase onde ela fala não pra tudo. Você pergunta: “Quer isso?”, ela responde: “Não!”. “Quer aquilo?”, “Não!”. “Vamos fazer tal coisa?”, “Não!”

A gente vai falar um pouco sobre o não dos professores. Como falar menos não ou falar de forma que a criança nos compreenda? Como fazer com que ela faça o que a gente pede, o que a gente precisa?

Este conteúdo é para você e para aquelas pessoas que você conhece e que também lidam com crianças. Aquelas pessoas que andam falando muito não por aí, o dia todo! Ou que precisam ter uma ação mais assertiva com a criança no sentido de fazer a criança ouvir e obedecer.

 Já parou para pensar quais são os maiores “nãos” que você fala? Faça a seguinte reflexão: Quando eu falo não, na maioria das vezes eu falo não para quê? Eu falo não o quê para as crianças do meu dia a dia?

Vamos lá! Basicamente eu vou falar duas coisas pra você. Duas informações. Duas dicas. Duas regras. Elas vão ajudar, quem saber até resolver o seu problema com relação ao não. Hoje nosso assunto é quando você fala: “não, não, não, não”, e mesmo assim a criança faz, faz, faz, faz aquilo que você não quer que ela faça.

Mas você precisa firmar um compromisso comigo e principalmente com você mesma, agora! Você vai ler esse artigo e quando chegar na sua escola vai colocar isso em prática. Se você tem filhos, colocar isso em prática. Se você é babá, mãe, a tia, não importa, coloque isso em prática, combinado?!!

Por que quando eu falo não eles não atendem?

Bem, a resposta é muito simples: eles não atendem justamente porque você está falando não!  As crianças normalmente não atendem simplesmente porque você está usando palavra não.

Quando trabalhamos com bebês não adianta a gente falar o não e muito menos querer explicar o porquê do não.É muita teoria, é muita informação para eles codificarem. O cérebro vai ter que fazer muitas sinapses para conseguir entender todo o contexto que você está colocando. Então não dá pra gente falar o não e explicar o porquê do não para o bebê. É muita coisa!

Aí você me pergunta: “A gente pode dizer não?”. Até pode, mas com certeza não vai ter um resultado tão legal quanto não falar o não.  A ideia é mudar a forma: ao invés de você falar o não e explicar o porquê do não você vai simplesmente deixar de falar o não.

Você não vai usar a palavra não e ainda assim ser muito mais assertiva na sua ação! Com isso vai aumentar as chances da criança te obedecer, de que ela faça o que você está pedindo. Ao agir dessa forma, você vai ter muito mais resultado e porcentagem positiva no que quer, o que não aconteceria se usasse o não.

Como deixar de usar o “Não” na prática?

A partir de agora, você será mais assertiva, vai falar uma palavra positiva, vai falar para a criança exatamente o que você quer que ela faça, não o que você não quero — ela já está fazendo o que voê não quero. Então pare de reforçar o que você não quer?

Quando você fala: “não bate, não morde, não pega, não sobe, não puxa, não joga” … É tanto não o dia todo na cabeça da criança, que chega uma hora em que ela elimina aquele não. Ela esquece que você está falando não. O que ela vai gravar? “Bate, joga, sobe, morde, pega, puxa”. Ao falar tantos nãos, esse não fica banalizado, a criança não escuta mais aquele não. Ela fica só com a ordem final.

Então, o que eu vou propor é: ao invés da gente falar para a criança o que a gente não quer que ela faça, vamos falar exatamente o que a gente quer que ela faça!

Um dos principais pontos para a criança conseguir fazer aquilo que você quer, atender o seu pedido, atender a sua ordem, o que vai dar sentido para a criança é você deixar claro para ela o que você quer.

Na maioria das vezes, a criança não faz alguma coisa não porque ela não sabe ou não quer fazer, ou é birrenta, ou é manhosa, é isso, é aquilo. Não! Ela não faz simplesmente porque ela não sabe o que é para fazer. Ela não entendeu ainda o que você está querendo dela. Na maioria das vezes é exatamente isso. É em cima disso que nós vamos trabalhar.

E só vamos precisar de duas coisas simples. São simples, porém não são fáceis. Você vai ter que fazer o exercício de falar palavras assertivas diariamente. Colocar a teoria em prática pode dar um pouquinho de trabalho, porque você vai sair um pouco da sua zona de conforto, você vai mudar a ordem dos fatos, na sua mente. Seu cérebro vai ter que pensar um pouquinho mais.

Vou fazer uma analogia para você entender melhor…

Quem dirige vai entender facilmente. Pense quando você vai tirar a habilitação para dirigir um automóvel. No começo você tem que pensar em arrumar o retrovisor, ligar o carro, engatar a primeira, olhar para o lado, etc. Você tem uma série de etapas para cumprir. Mas a partir do momento que você vai dirigindo mais vezes, aquilo fica automatizado. Um belo dia você está saindo da garagem e pensa: “nossa, como eu saí? Nem percebi como eu saí”. Você fez tudo aquilo: arrumou o retrovisor, arrumou o banco, engatou a primeira, soltou o freio de mão…, mas você não se dá mais conta. A ação já ficou automatizada para você.

Então o que que você vai ter que fazer a partir de hoje é criar uma nova conexão, uma nova autonomia para o seu cérebro. Você não vai mais repetir o que estamos acostumadas a fazer ao ver uma criança mordendo, que é dizer: “não morde”, ver uma criança batendo e dizer: “não bate”. Isso você já tem no automático. O que você irá fazer é segurar esse automático e gerar um novo aprendizado na sua mente. Você vai gerar uma nova forma de falar.

Pois é, a teoria é bem fácil. O que você vai ter que fazer é super fácil, o que não é fácil é conseguir automatizar essa nova forma na sua mente. Para isso você vai precisar se policiar, se perceber e praticar várias vezes até conseguir automatizar o processo.

Para isso, a primeira coisa que você vai fazer é deixar de usar o não. Você vai mostrar para sua mente, você vai se convencer de que o não a partir de amanhã será sinônimo de perigo! Você só vai falar não quando for uma coisa de real perigo, por exemplo: se a criança for colocar o dedo na tomada, se ela está tentando abrir um portãozinho na beira da escada, ou algo do tipo.

Deixe o não apenas para situações de perigo, assim ela não vai virar uma palavra banal. Você só vai usar o não quando a criança realmente estiver correndo risco.

Já nessas questões do dia-a-dia, como morder, puxar, jogar, subir: você não irá mais dizer não para elas.

Pense nessa situação: quando a criança está batendo no amigo, ela está prestes a bater no amigo… A gente não quer que a criança bata, então o que eu vou falar? Na minha mente, eu vou substituir a ordem não bate pela palavra carinho.

Uma ferramenta útil que pode te ajudar nisso é fazer uma tabela. Pegue uma caneta e vá anotando: antes eu falava isso, a partir de agora eu vou falar aquilo. Faça uma tabela pra você não esquecer.

Quando uma criança estiver batendo na outra, ou prestes a bater, eu vou falar: “fulano, carinho”, “amigo, faz carinho”, “olha que gostoso, carinho” … carinho, carinho carinho … Eu vou preencher a mente da criança com o que ela pode fazer, com o que ela deve fazer. Se a criança está mordendo, o que eu vou falar? Ou eu falo “beijo, beijo, beijinho” ou eu foco no “carinho”.

Se a criança for muito pequena, ao invés de vários estímulos eu posso escolher um só. Se a criança for maior eu posso usar/criar alguns sinônimos. Mordeu: tem que beijar; bateu: tem que fazer carinho. Se a criança for bem pequenina e você achar que vai dar confusão, tudo bem, foque só no carinho!

Se criança vai pra cima da outra, vai morder, mordeu, não importa… “carinho”! Ou então “beijinho no amigo”, “beija o amigo”, “olha que gostoso”, “amigo ficou contente”… beijo, beijo, beijo, carinho, carinho, carinho, carinho. Foco no que dá certo, no positivo.

Outro exemplo: a criança está mexendo em alguma coisa que não pode, está pegando alguma coisa que não pode, ou que está na mão do amigo, enfim.

Então se a criança não pode mexer, ou se aquilo está na mão do amigo o que eu vou falar? Em vez de: “não pega, não isso, não aquilo”, eu vou falar: “olha fulano, que bonito esse, vem pegar esse, olha. Pega esse, toma esse.” Repita quantas vezes for necessário para conseguir atrair a atenção da criança para o que você quer que ela faça.

E se a criança estiver correndo? Confesso a vocês que isso me incomoda muito! Quando vou nas escolas ou quando ouço algum vídeo na internet onde as professoras gritam: “não corre, fulano, para de correr”, eu penso “gente, ela tá falando tanto não corre, não corre… e não tá resolvendo”. Ela não tira um tempo pra pensar que aquilo não funciona. E o que funciona?

O correto é dizer: “andando, andando, junto comigo, todo mundo junto”. Imagine uma criancinha de 1 ano, até 1 ano e oito meses, e ela começou a dar aquelas corridinhas agora. O que ela quer é correr, não quer saber o que tem pela frente.  E aí eu fico dizendo: “não corre, não corre”. O que ela faz ao invés disso? Ela continua correndo! O que a criança escuta é “corre, corre, corre”.

Se essa criança tivesse maturidade cognitiva, ela te perguntaria assim: “tá bom, não corre e faz o que então?” Era mais ou menos isso que a criança falaria.

Então, preencha a mente da criança com aquilo que ela pode fazer: “a gente vai pro refeitório agora, todo mundo andando, andando… pertinho da prof, andando”.

É difícil ter esse controle sobre nós, para não falar uma coisa que estamos muito acostumadas, é quase um instinto? Com certeza. Mas você decidiu um dia que ia trabalhar com berçário e achou que seria fácil? Não, né? O importante é que é possível! Tenho certeza de que se você disser: “eu vou recondicionar minha mente”, você vai conseguir!

E quando a criança atira um brinquedo? Quando a criança joga o brinquedo, ao invés de permitirmos que ela continue jogando, a gente deve mostrar para a criança onde ela deve colocar o brinquedo. Vamos supor que a criança se chama João. Então vamos falar assim: “João, não minha mão aqui ó, coloca na mão, da prof”, “na mão”. Aí você pega o brinquedo, coloca na sua mão e diz: “olha que legal, na mão da prof”. E fala também para os coleguinhas: “quem consegue colocar o brinquedo aqui ó na mão da prof?”, “Agora na não do amigo”, “isso, olha como você é legal”, “Você ajudou seu amigo”.

Com crianças pequenas o processo de repetição é um pouquinho maior sempre. Ah, então não vale a pena, Vivian? Vale a pena, sim! Não só vale a pena como é nossa obrigação ensinar sempre o que a criança pode fazer, o que é aceito na nossa sociedade, o que vai ser bacana para ela.

Isso vale para várias outras situações, por exemplo: se a criança está comendo o giz, pegando folha etc. Tire a atenção dela dali.

Foque na frase assertiva! No que a criança consegue escutar e fazer.

Foque no carinho: se a criança bater, beliscar, empurrar: “carinho, carinho”.

E quando a criança grita? Veja… gritar não é errado. Gritar é diferente de bater, que é errado. Devemos inclusive proporcionar momentos em que a criança possa gritar, não podemos rotular o grito como uma coisa errada.

O que eu preciso mostrar pra ela é que tem momentos em que podemos gritar e tem momentos que temos de falar baixinho. Mas para que a criança aceite o momento que eu preciso que ela fale baixinho, eu tenho que dar oportunidade pra ela gritar em outro momento.

Há situações onde ela não pode gritar: quando alguém está dormindo, ou porque não dá pra viver na gritaria o tempo todo. Mas não podemos esquecer: gritar não é ofensa, gritar não machuca. Pode gritar, mas há os momentos certos de gritar e de falar baixinho. Tirar o calçado: é igual. Tem momentos que a criança vai precisar tirar, o importante é diferenciar os momentos certos dos momentos inadequados.

Mas é importante ter em mente que ao conseguir que a criança nos obedeça, resolvemos momentaneamente a situação. Identificamos esse momento e mudamos a nossa fala, mas em alguns casos a gente não resolveu o problema.

Vou deixar um quadro abaixo com sugestões de fala para você passar usar a parti de agora e substituir os Nãos” que você fala, ok?!!

EU DIGO DEVO DIZER
Não bate, Não belisque, Não empurre Carinho
Não corre Andando
Não morde Beijinho
Não pega Pega esse
Não tire o tênis Vamos bater o pé no chão
Não chora O que houve? Como posso te ajudar? Oferecer um abraço!
Não grita Vamos falar baixinho! (Você já dando o exemplo)
Não coloca na boca Coloque no chão, ou na mesa, ou na barriga, etc.

Espero que tenha sido muito útil para você e principalmente traga mudanças positivas para você e para seus alunos.

Ficou com alguma dúvida? Coloca nos comentários…

Beijo

Vivian Mazzeo

64 comentários em “Falo NÃO o dia todo e as crianças não obedecem. O que fazer?”

  1. Trabalho com infantil III. Eles tem dificuldade em obedecer comandos…..mais agora estou pensando…..acho que tenho que mudar a maneira de dar comandos e as regrinhas…

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  2. Assisti o seu vídeo sobre o assunto no outro dia já coloquei em prática e esta dando muito certo. Amei as dicas!

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  3. Já uso essa técnica desde o inicio do ano e converso bastante com minha auxiliar para que siga a mesma linha de pensamento e agora mandei o artigo para que ela também leia. Dá super certo!
    Geórgia Durães

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  4. Amei as dicas vou por em prática e depois te falo o resultado, mas acho que vai dar certo as crianças são muito esperta. Bjs!!

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  5. Já usei a técnica do mapeamento e deu super certo, agora vamos por essas dicas novas em prática tbm tenho certeza q vai dar certo…

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  6. Boa tarde Vivian
    Eu tinha visto no grupo uma colega com problemas de mordidas na sala e vc respondeu que devemos falar com carinho e mostrar que ali ele deveria brincar com os amigos …e assim fiz no meu berçário …nossa o resultado foi muito bom a criança parou de morder, acredita.
    Agora vou aplicar suas orientações no meu dia dia…
    O carinho ou invés do não pode…
    Muito obrigada mesmo…
    Abraços

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  7. Amei Vivian. Já havia lido uma matéria sobre o assunto e você exclareceu muito bem como se faz. Aprendi muito contigo. Vou me esforçar em por em prática. Obrigada.

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  8. Amei suas dicas, muito bom pode fazer parte desse grupo que me auxilia cada dia mais, parabéns pelo belo trabalho, graças a você estou crescendo proficionalmente! Beijos!

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  9. Muito bom, já faço isso com os pequenos que eu trabalho, quando batem ou mordem, falo exatamente e demonstro como fazer carinho, faço carinho nas duas crianças e peço que façam carinho um no outro e fazem, é uma repe tição até se acostumarem e entenderem que o carinho é bom e barato não, mas através da demonstração de carinho é que vão entendendo. E brinco com bonecas com as crianças de enrolar, alimentar e nanar elas e vejo que ficam cslmos, ajuda muito e transferem para o amigo o carinho e o cuidado que eles tem com as bonecas.

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  10. Ainda estamos alienados que não existe professora para berçário a Instituto e os pais acha que só cuidamos, sim o cuidar e fundamental e o desenvolvimento tbm. Amei a matéria … Parabéns com a matéria já executo dessa forma mais ainda o instituto não enxerga nós como educadores e nos bloqueia em fazer isso o Não.

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